Maioria dos clientes é de estudantes e trabalhadores de fora do Rio.

Fonte por Maurício Peixoto para Jornal O Globo

Quando Célio Castro e Guilherme Carames, tio e sobrinho, procuraram, no início de 2013, a Accarj (Associação de Cama & Café e Albergues do Rio) com a pretensão de abrir dois hostels na região da Grande Tijuca, muitos duvidaram da ideia deles. Os dois ouviram que a empreitada era arriscada, pois a área não está no roteiro turístico tradicional do Rio de Janeiro. No entanto, o tempo mostrou que eles tiveram, sim, uma grande ideia. Castro e Carames estão à frente, respectivamente, do Arena Maracanã Hostel e do Maraca Hostel, e comemoram o grande movimento de hóspedes.

Ao abrirem as portas dos albergues, eles pensavam no público dos grandes eventos internacionais no calendário da cidade (Jornada Mundial da Juventude, Copa do Mundo, Rock in Rio e Olimpíadas). No entanto, acabaram suprindo uma carência da região. A maioria dos hóspedes é formada por estudantes, “concurseiros” e empresários das multinacionais ao redor.

— Aqui ao lado tem a Uerj, a Universidade Veiga de Almeida e o prédio da Petrobras, por exemplo. Recebemos gente do Brasil inteiro que vem fazer provas para concursos ou que vem para seminários e convenções nas universidades e nas empresas. Temos, inclusive, três empregados da Petrobras morando aqui conosco e visitando as famílias, no interior do estado, nos fins de semana. Foi algo que me surpreendeu bastante. A região tinha essa carência e ninguém percebia — diz Castro, dono do Arena Maracanã Hostel, que fica na Rua Paula Sousa e foi aberto em setembro do ano passado, visando aos Jogos Olímpicos de 2016.

Outro exemplo de sucesso é o Villa Hostel, inaugurado em julho de 2013, na Rua Teodoro da Silva, por conta da Copa do Mundo. O empreendimento tem convênios com empresas e universidades, e oferece desconto para alunos da Uerj e para quem participa de congressos e seminários na universidade. O hostel também tem preços especiais para membros da OAB e para empresas paulistas.

— Vila Isabel não está no circuito turístico, e competir com a Zona Sul é meio desleal. Então, fiz uma pesquisa para ver qual era a nossa real demanda, que é exatamente esse público. Turista é bônus — conta Diogo Brandão, um dos quatro sócios do Villa Hostel.

Guilherme Carames, à frente do Maraca Hostel, aberto em julho de 2013, na Rua Ribeiro Guimarães, em Vila Isabel, também logo percebeu que as pessoas que vinham para a região a negócio ou por causa de estudo não tinham onde ficar.

— Posso dizer, sem sombra de dúvidas, que essas pessoas são a grande maioria dos nossos hóspedes. Temos muitos estudantes que vêm de fora e ficam por aqui enquanto procuram um lugar para morar. No Rio, nunca houve a cultura de trazer turistas para essa região. Vimos que a Copa se aproximava e não havia nada aqui por perto. E acabamos suprindo uma outra necessidade, meio que por acaso — avalia Carames.

Um exemplo desse tipo de hóspede é o petroleiro Jackson Dallagnol, de 33 anos, morador de Joinville, Santa Catarina. Ele veio para uma entrevista de emprego no prédio da Petrobras, no Maracanã, em busca de trabalho em navios offshore, em Macaé, e ficou no Maraca Hostel.

— É a primeira vez que me hospedo em um hostel. Gostei muito. O atendimento e os serviços são bons, e o preço é muito justo. Estão aprovados — elogia.

Na semana passada, o Maraca Hostel também tinha entre os hóspedes público do Rock in Rio. Eram turistas de outros estados, como os paraenses Luiz Otávio, 33, e Lucas Vilhena, 15, pai e filho, que viajaram mais de três mil quilômetros só para ver o show da banda de heavy metal System of a Down.

— Achei esse hostel pelo site do Hotel Urbano. Vim pelo preço bom. Para nós, qualquer lugar onde tenha um colchão e um teto serve, mas me surpreendi com os serviços e o atendimento. O café da manhã é muito bom, a área de lazer com piscina e churrasqueira é ótima. Além disso, o clima intimista é muito legal. Já fizemos amizade com um monte de gente — comentou Luiz Otávio.

Uma das amizades foi com as goianas Isabela Miranda e Isabela Parmegiani, que descobriram o hostel graças a amigos que já se hospedaram lá.

— Gostei dessa região, apesar de ser relativamente longe do Rock in Rio. Tem transporte para todo lado, é uma região meio que central, e não está naquele burburinho da Zona Sul. Achei aqui bem tranquilo — disse Isabela.

Na Copa do Mundo, o Villa Hostel teve sua lotação até ultrapassada. Brandão deixou um grupo de 20 chilenos acampar na laje. No entanto, surgiram muitos problemas, como sujeira espalhada, e até casos de calotes e cartões clonados. Para evitar esse tipo de transtorno nos Jogos Olímpicos, ele pretende fechar pacote com alguma delegação internacional.

— A Accarj vai nos ajudar a fechar pacotes com as delegações. Eles estão em contato com o Ministério do Turismo para dar o suporte necessário — adianta.

Com ações e ambientes originais

Clima intimista, decorações inspiradoras e ações sustentáveis são pontos fortes desses albergues que chegaram para ficar na região. O ambiente propício para fazer amizades também se destaca na avaliação dos hóspedes.

— Aqui conhecemos novas pessoas e novas culturas quase todos os dias. Diferentemente de um hotel, mais caro, e onde se fica trancado dentro do quarto o tempo todo — compara o português Alberto Gomes da Costa, jardineiro, que mora no Brasil desde 2011, sendo os últimos quatro meses no Villa Hostel.

Para aumentar ainda mais esse clima de amizade, o sócio do hostel promove eventos musicais no estabelecimento, além de oferecer aos hóspedes bicicletas, tabuleiro de xadrez, violões e até minicinema com óculos 3D.

— É muito importante agregar serviços ao local para deixar os hóspedes mais à vontade e atrair a clientela. A maior propaganda é o boca a boca — afirma Diogo Brandão.

No Arena Maracanã Hostel, onde também são realizados eventos esporádicos como pagode e degustação de cervejas, a decoração é inspirada nos tons da bandeira olímpica. O espaço inclui piscina e quartos em contêineres marítimos com as cores azul, vermelha, branca e preta. O hostel também valoriza a energia solar.

— Fui às Copas de 2010, na África do Sul, e de 2006, na Alemanha, e fiquei hospedado em hostels. E muitos lá usavam contêineres. Copiei a ideia — conta Célio Castro.

A roda de samba do Maraca Hostel, todo último sábado do mês, já é marca registrada do local, que tem decoração inspirada no Maracanã antigo e em clubes de futebol. Mesa de sinuca e piscina completam o lazer dos hóspedes.

— É importante realizar eventos para promover o local — avalia Glenda Carames, irmã e sócia de Guilherme, no Maraca Hostel.

O albergue também é um aliado da sustentabilidade. Uma das ações é o reaproveitamento de água da chuva e do ar-condicionado. Guilherme Carames e os funcionários dele fazem um curso de práticas sustentáveis em meios de hospedagem, no Sebrae. O objetivo do empresário é que o Maraca Hostel seja o primeiro do Brasil a conseguir a certificação da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) .

— No Brasil, nenhum hostel é certificado. Queremos ser o primeiro. Não é fácil, há muitas exigências, mas vamos tentar ao máximo — afirma.

 

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