Roteiro da festa no Maracanã será pautada pela síntese da cultura brasileira. Diretor de “Cidade de Deus” descarta mazelas e orçamento limitado restringe ostentação

Fonte: Por Leonardo Filipo para Globo Esportes

O ursinho Misha chorando em Moscou 1980, a pira acesa pela flecha de um arqueiro em Barcelona 1992, e a “Rainha Elizabeth” saltando de paraquedas sobre o estádio olímpico de Londres com James Bond, em 2012. Momentos inesquecíveis na história das cerimônias dos Jogos Olímpicos, que foram mantidos em segredo até o momento final. O mesmo segredo que está sendo mantido para o dia 5 de agosto de 2016, no Maracanã. Em entrevista coletiva nesta terça-feira, os responsáveis pelas cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos deram algumas pistas de como vão emocionar uma audiência global de 3 bilhões de pessoas.

Os cineastas Fernando Meirelles e Andrucha Waddington e a diretora teatral Daniela Thomas estão finalizando um roteiro baseado na cultura brasileira e moldado no espaço físico limitado do Maracanã e no orçamento apertado do Comitê Rio 2016.

Contar a história do Brasil de maneira linear, desde o descobrimento do país em 1500, passando pela vinda da família real portuguesa e daí em diante está descartado. A síntese da cultura brasileira foi encontrada a partir de rodadas de conversas com figuras como Gilberto Gil, José Miguel Wisnik e Hermano Vianna. A impossibilidade de representar toda a multiplicidade cultural incomoda o diretor de “Cidade de Deus”, filme que exibiu a favela carioca para o mundo. O cineasta descarta qualquer personagem que lembre o traficante Zé Pequeno.

– Demorei oito meses para aceitar o convite porque é muito difícil mostrar o Brasil. Certamente muitas pessoas não se sentirão representadas na cerimônia. Nestes buracos é que estão as minhas angústias. Não teremos a violência das favelas, nem o Congresso Nacional. Cerimônia olímpica não é lugar para lavar roupa suja do país, não é hora das mazelas. Você pode mostrar um sambista sem glamour – disse Meirelles.

Andrucha considera que a “Rainha Elizabeth” da festa do Rio 2016 será a cultura brasileira. E dá pistas de que o momento do maior recado da festa será o desfile dos cerca de 10.500 atletas de 206 países. Daniela Thomas quer evitar comparações com a criticada abertura da Copa do Mundo, que tinha menos figurantes, e cujo piso era preciso trocar rápido para a partida inaugural na Arena Corinthians. Nos Jogos, a cerimônia tem o ingresso mais caro – chega a R$ 4.600 – e tem duração de cerca de 3h45min.

A proposta da festa no Maracanã não é o luxo, mas a originalidade, segundo o diretor de cerimônias dos Jogos, Leonardo Caetano. Responsável pela cerimônia de encerramento, no dia 21 de agosto, a carnavalesca Rosa Magalhães trata com bom humor a ausência de ostentação, diferente do que se vê nos desfiles das escolas de samba.

– A gente vai ter que ter alguma coisa de luxo sim, pelo menos papel prateado, uns penachos de vez em quando – disse Rosa.

O Rio 2016 trouxe uma situação inédita para as tradições dos Jogos. Pela primeira vez as cerimônias de abertura e encerramento não serão no estádio olímpico, aonde o atletismo será disputado. Dessa forma cogitou-se adotar uma pira no Maracanã e outra no Engenhão. Ideia que foi deixada de lado para não diminuir o impacto do símbolo, como conta o diretor de cerimônias, Leonardo Caetano.

– Pensou-se em colocar uma no Maracanã, uma no Engenhão, outra na Vila dos Atletas. Mas ia perder a força de um elemento tão importante.

O local aonde ficará a pira também está praticamente definido. Mas este é mais uma das grandes surpresas que vão preceder o maior segredo de uma abertura de Olimpíadas: quem vai acender a pira?

As inscrições para ser voluntário das quatro cerimônias – abertura e encerramento das Olimpíadas e Paralimpíadas – se encerram no próximo dia 30 e podem ser feitas no site oficial dos Jogos – www.rio2016.com. Para participar é preciso ter algumas habilidades, como saber dançar andar de skate ou tocar um instrumento de percussão. Serão necessários 12 mil voluntários, número que foi ultrapassado recentemente. O Comitê Rio 2016 quer atrair 30 mil. As audições começam em novembro e os ensaios estão programados para o estádio Moça Bonita, em Bangu.

 

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