Reitor diz que dívida da universidade com terceirizados já soma R$ 150 milhões

Fonte por Simone Candida para Jornal O Globo

Todos os portões do campus da Uerj, no Maracanã, amanheceram trancados ontem, num protesto de estudantes e funcionários da instituição, em greve desde março. Quem foi à universidade encontrou cadeados nos acessos, além de cartazes contra o parcelamento de salários e a falta de verba. O comando de greve e um grupo de estudantes não permitiram a entrada de ninguém no local até o início da noite, com exceção dos seguranças. Segundo o reitor da Uerj, Ruy Garcia Marques, este ano a instituição não recebeu um só dos repasses previstos para custeio e, como o atraso nos pagamentos começou no ano passado, as dívidas da instituição com empresas terceirizadas já somam R$ 150 milhões.

Funcionários reivindicam o pagamento da segunda parcela dos salários de maio (a primeira foi depositada no último dia 14). Além disso, os manifestantes, com o ato de ontem, queriam chamar a atenção para a falta de investimentos do estado na Uerj. Como a universidade não vem pagando às empresas terceirizadas, serviços como limpeza não vêm sendo executados. Segundo os grevistas, dentro do prédio há muito lixo espalhado. Por isso, não há condições para trabalhar.

— Estamos aqui por vários motivos, mas o principal é que não recebemos ainda a outra metade do salário do mês de maio, e o governo diz que não há previsão de pagamento. Outro problema é que a universidade este ano recebeu zero reais de verba de custeio. Não temos condições de trabalhar — disse Débora Lopes, técnica administrativa que integra o comando de greve. Ela afirmou que o “trancaço” pode durar mais tempo.

De acordo com o reitor, a Uerj precisa de R$ 12 milhões emergenciais para pagar parte da dívida com as empresas terceirizadas (de limpeza, manutenção e segurança). Necessita ainda de mais sete parcelas de R$ 12 milhões para funcionar até o fim do ano.

— Isso nos permitiria regularizar os pagamentos às empresas de janeiro a maio. E, a partir daí, renegociaríamos as dívidas. É a pior crise da Uerj. A situação é muito grave. A universidade está em greve, mas, mesmo que os funcionários e professores acabem com a paralisação, ainda assim não teríamos condições de retomar as atividades, porque precisamos de dinheiro. Algumas empresas estão sem receber desde agosto — informou.

Governo nega falta de verba

Somente os valores destinados a pagamento de pessoal e de bolsas estão sendo repassados — e, mesmo assim, com atraso, disse o reitor.

Estudante do oitavo período do curso de engenharia de produção no campus da Uerj em Resende, Victos Andrade, de 22 anos, foi ontem à sede no Maracanã para tentar buscar cópias do histórico escolar e de outros documentos na secretaria, mas foi surpreendido com o fechamento do prédio.

— Preciso dos documentos para fazer minha transferência para a UFF. Como vou fazer? — perguntou o estudante que, depois de seis meses sem aulas, decidiu sair da Uerj.

O semestre já está chegando ao fim e, até agora, os alunos tiveram só uma semana de aula.

O governo estadual nega a falta de liberação de verba para a Uerj. Segundo nota da Secretaria estadual de Fazenda, “apenas os repasses relativos a custeio da Fundação Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) somaram R$ 79,1 milhões em 2016, até o dia 14 de junho. (…) No mesmo período, os repasses relativos a pagamento de pessoal da Uerj foram de R$ 273,5 milhões. A dotação orçamentária da universidade (incluindo pessoal e custeio) é de R$ 1,1 bilhão em 2016, ou seja, mesmo em meio à gravíssima situação financeira do estado, 32% do orçamento total da Uerj foram efetivamente repassados em cinco meses.”

 

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